TEMPO
(.)
Sai desalvorada na rua
Já ia atrasada
E meia descabelada
Na pressa de chegar depressa
Passei o sinal vermelho
Buzinei à lesma que não me saia da frente
Travei brusca na passadeira e reclamei com o coxo
Que na sua coxiadeira passou lentamente,
passo a passo à minha frente
atravessou a rua como se desfilasse na moda Lisboa
Sorriu-me e agradeceu!
Que lata! Pensei eu
Sei idiota, atrasado mental, anormal de um raio
Se soubesses a pressa que eu levo
Atiravas a bengala para o lixo
Ganhavas asas e voavas até me desapareceres da frente!
Olhei o relógio
Que indiferente ao semáforo que não abria,
À lesma que não me sai da frente
Ao coxo que se julgava vedeta de Hollywood
Contava os segundos: um a um – tic tac tic tac
E, os minutos passavam
A ansiedade aumentava
Até senti a dor no peito
O coração a parar
E o tempo a passar
Dei comigo perdida nestes pensamentos
Os mais profícuos de todos
E, Se o sinal não estivesse vermelho
E, Se a lesma tivesse andado mais depressa
E, Se o coxo não tivesse coxeado
Será que me teria despacho a horas?
E, aí surgiu o pensamento mais idiota de todos:
E, se eu tivesse saído mais cedo?
E, se eu tivesse organizado o meu tempo?
Pois sim! Era a mesma coisa!
Gritei feita louca!
A culpa não é minha:
É do semáforo que não muda
Da lesma que não sabe conduzir
E principalmente do coxo!
Sim a culpa é do coxo que só sabe coxear!
Foi então que o mais louco pensamento
Nunca antes pensado
Nunca antes experimentado
Mas que Pitágoras já defendia:
Se me surgiu na alembradura:
“Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito”